Finn Wolfhard é um ator canadiano mais conhecido por representar o papel de Mike Wheeler na série da Netflix, Stranger Things. Mas a música sempre esteve dentro dele.
Com Happy Birthday, Finn Wolfhard deixa finalmente cair o véu do coletivo e assume, pela primeira vez, a sua voz em nome próprio. Após as aventuras juvenis em Calpurnia e o indie caseiro dos Aubreys, o jovem canadiano de 22 anos estreia-se agora a solo, num registo lo-fi, íntimo e imperfeito, como um diário sonoro gravado no quarto entre memórias de infância, crises existenciais e devaneios pop.
Este não é o álbum de um ator que decidiu brincar à música. É o disco de um verdadeiro geek musical, alguém que cresceu a ouvir Beatles, Weezer, Alvvays, PUP e Lingua Ignota, e que agora pega na guitarra como quem pega num velho caderno de esboços: sem pudor, sem pretensões, mas com uma sensibilidade muito própria. Happy Birthday soa como um postal de aniversário escrito por alguém que não sabe bem se quer celebrar ou desaparecer da festa — e isso é precisamente o seu maior encanto.
A abertura com a faixa-título é quase antimusical, desafinada e trémula, como quem entra a medo num palco imaginário: “Happy birthday / What do you want?” pergunta ele, meio irónico, meio genuíno. A partir daí, somos levados por nove temas que oscilam entre o garage rock sujo de “Eat” (algures entre Pavement e os Harlem) e a folk acústica melancólica de “Everytown”, onde Wolfhard soa como um Elliott Smith dos tempos do TikTok.
Há momentos de puro escapismo indie — “Choose the Latter” podia ser banda sonora de uma road trip filmada em Super 8, enquanto que “Objection!” brinca com os clichés do folk-pop com uma leveza encantadora. Mas é em temas como “Crown” que o álbum brilha verdadeiramente: riffs sujos, refrão vago mas pegajoso, e um groove que nos faz lembrar que estamos a ouvir alguém que cresceu rodeado de referências, mas que já começa a criar uma linguagem própria.
Gravado em fita, com imperfeições assumidas (falsetes trémulos, takes crús, misturas por acabar), Happy Birthday é um disco que soa mais a processo do que a produto. Mas é precisamente essa crueza que lhe dá peso. Numa era de sobreprodução e algoritmos, ouvir alguém desafinar, experimentar, tropeçar e continuar é quase revolucionário. É o retrato fiel de um jovem artista a tentar perceber quem é, com uma guitarra nas mãos e o mundo nas costas.
Sim, há letras sobre nostalgia, ansiedade e solidão. Mas também há humor, leveza e uma estranha alegria em aceitar o caos da juventude. Como o próprio Finn disse numa entrevista, “ainda estou a descobrir a minha voz”. Pois bem, com Happy Birthday, ele já a encontrou — mesmo que seja só o início da conversa.