Charmer, Downpour (Counter Intuitive Records)
Downpour é o primeiro álbum em cinco anos da banda americana de Michigan. Charmer fogem à categorização, juntando uma intensidade emo a melodias cuidadas que trazem The Cure à memória. Neste último álbum, debruçam-se sobre os temas do luto, crescimento e reflexão, partindo de perdas pessoais e dinâmicas familiares. É um registo profundamente humano, que não só mostra o melhor dos Charmer, como também nos surpreende com novas facetas.
Florry, Sounds Like… (Dear Life Records)
Há uma certa indiferença despreocupada nos Florry. A banda de Filadélfia tem um charme casual e folgado. Na linha dos contemporâneos MJ Lenderman e Wednesday, Florry juntam o rock com o country e o folk, honrando recentes antepassados como Kurt Vile, ou, recuando mais, lendas como Lucinda Williams. Nada em Sounds Like… é forçado. É o som genuíno de um grupo de amigos a fazer música, usando as suas melhores qualidades, mas pouco ou nada preocupados em embelezar as suas experiências e as canções. Há algo imensamente livre e jovem nos Florry.
Home Is Where, Hunting Season (Wax Bodega)
Os dois últimos álbuns da banda emo da Flórida foram dos melhores do respetivo ano, tanto em 2021 com I Became Birds como 2023 com The Whaler. Agora os Home Is Where regressam com um álbum que vai beber aos artistas que sempre mencionaram como influências: Bob Dylan e country dos anos 70, como Gram Parsons e Hank Williams. Hunting Season são 13 canções que narram os últimos pensamentos de 13 diferentes artistas de tributo a Elvis, que morrem num desastre automóvel, com chamas e muito fumo. O álbum é descrito pela banda como música para a estrada e como o seu projeto mais acessível até agora. Apesar da premissa soar ambiciosa, The Whaler já nos mostrou que os Home Is Where são bastante capazes de escrever autênticas teses em formato de álbum.
kuru, Stay true forever (deadAir)
A mixtape Stay true forever segue-se a Re:Wired, de 2024. O rapper e produtor kuru é baseado em Nova Iorque e mergulha nas sonoridades hyperpop e digicore. Stay true forever conta com os singles “2Door”, “I Saw It Coming” e “Somewhere Going Home”. kuru é um artista misterioso sobre o qual pouco se sabe, mas a recente mixtape é um impressionante cartão de visita
Moontype, I Let the Wind Push Down On Me (Orindal Records)
Moontype vêm de Chicago e começaram como um projeto solo da vocalista Margaret McCarthy. I Let the Wind Push Down On Me, o segundo álbum, é uma reinvenção para o grupo e não é só por terem um alinhamento de músicos mais alargado. O som é mais impactante e a escrita mais introspetiva, estando McCarthy mais madura. Na junção de indie rock com floreios folk, McCarthy canta sobre desejo e nostalgia, sobre autorreflexão e momentos que marcam a nossa juventude. Com I Let the Wind Push Down On Me, os Moontype reafirmam-se como uma banda a acompanhar.
pablopablo, Canciones en Mi (Mom + Pop Music)
A semana passada destacámos o álbum de Guitarricadelafuente e esta semana destacamos o de pablopablo, um dos principais produtores envolvidos, não só no mencionado álbum como também para artistas de renome como C. Tangana. pablopablo é o nome de projeto de Pablo Drexler, filho do icónico cantor de pop latino Jorge Drexler. Canciones en Mi é eclético e diversificado, tal como a miríade de influências de pablopablo. Há toques de Vampire Weekend nos instrumentais mais orgânicos, mas quando entra a produção eletrónica e os falsetos vem-nos à cabeça James Blake. O alinhamento conta com uma colaboração com a espanhola Amaia e é de destacar que os créditos de composição e de produção estão endereçados, em quase toda a sua totalidade, a pablopablo ele mesmo. Canciones en Mi é uma brilhante mostra do talento inesgotável de pablopablo e que, esperemos nós, o levará bastante longe.
rusowsky, DAISY (rusia IDK)
No centro de Madrid, há um coletivo underground que tem atraído atenções já há alguns anos. O grupo de artistas rusia IDK conta com rusowsky e outros nomes como TRISTAN! e Ralphie Choo. rusowsky, com treino musical de conservatório, apresenta um pop eletrónico experimental e colorido. Assim como em muitos artistas com formação institucional, a técnica que aprendeu é posta ao serviço dos seus instintos musicais mais anarquistas. O resultado é DAISY, um fantástico álbum de estreia que delicia de imediato mas que brilha nos detalhes também.
Smerz, Big city life (Escho)
Smerz são uma dupla norueguesa que é irresistível. Com a mistura de várias influências e o domínio das mesmas, as Smerz constroem uma estética excitante e que nos faz ser como elas. Por entre o synthpop e o dance dos clubes, há subliminarmente um ethos punk que faz delas imensamente cool. Falam-nos de paixões e escapar para a grande cidade como quem procura algo mais. Big city life é um manifesto anti-monotonia e anti-piloto automático que nos põe a dançar muito mais por dentro do que por fora.
These New Puritans, Crooked Wing (Domino Records)
Depois de seis anos, These New Puritans estão de volta. O resultado é uma estranha e melancólica paisagem sonora de ricas texturas. O single “Industrial Love Song”, em colaboração com vanguardista pop Caroline Polachek, ilustra o cerne de Crooked Wing na perfeição. A voz é angélica e partes da produção são aladas, mas por entre esta tapeçaria celestial surgem granularidades e imperfeições metálicas. O que torna Crooked Wing tão interessante é a tensão entre algo etéreo e o quão fácil é manchá-lo (e talvez dessa forma embelezá-lo e o valorizar mais?).
Vaiapraia, Alegria Terminal (Maternidade, Tons To Tell)
Alegria Terminal é o terceiro álbum do artista português Vaiapraia. É um artista singular que se distingue do indie rock português, atualmente densamente povoado, pela sua abordagem caótica, que para alguns pode trazer à memória o caído Ariel Pink. Estando o cantor a viver em Londres de momento, Alegria Terminal usa tanto o inglês como o português nas suas letras, que não só espelha o que se passa diariamente na cabeça de Rodrigo Vaiapraia como também é uma tentativa de conectar com o público dos bares londrinos. Ainda assim, o artista marca presença frequente em Portugal, com concertos e festivais a não perder.