Biosphere, The Way of Life (AD 93)
Geir Jenssen, natural de Tromsø na Noruega, já desde a década de noventa que inova a música ambient, tendo-se destacado sob o nome Biosphere. Os seus primeiros trabalhos baseavam-se na utilização de loops e field sounds, algo que certamente o preparou para The Way of Life. Por entre sintetizadores inesperados, o artista vai bordando recortes de uma peça de teatro radiofónico de 1951, com a voz de Joan Lorring. O resultado final é rico e imprevisível, ao qual é impossível não ficar agarrado do início ao fim.
Facta, Gulp (Wisdom Teeth)
Ao conceber Gulp, Facta foi influenciado pelo tech house minimalista da viragem do milénio, UK soundsystem music, eletrónica ambient e dub. Nas palavras do produtor de East London, o projeto mistura voz, linhas de baixo explosivas, sintetizadores gotejantes e grooves catapultantes que “juntos mapeiam o seu divertido canto psicadélico da club music contemporânea”. É um mini-álbum que combina com êxito o mais experimental de Facta com algo mais lúdico e dançável.
Haim, I quit (Columbia)
Haim está para o verão como junho está para os santos populares. A banda californiana de três irmãs desde o início da carreira que se destaca pela energia que é difícil de pôr em palavras, mas que nos transporta para tardes quentes e solarengas com gelados e indumentária amarela à mistura. Desde sempre também que as irmãs têm conseguido nos seus álbuns dispor variados géneros e (quase) sempre de forma exitosa. Estão entre o rock e a pop (a influência Fleetwood Mac é clara em algumas das canções de I quit), mas também flirtam com o R&B em “Relationships” ou a música country em “The farm”. É uma excelente forma de começar o verão.
Hotline TNT, Raspberry Moon (Third Man)
Hotline TNT começou por ser um projeto pessoal de Will Anderson, que nas digressões se fazia acompanhar de uma banda que ia mudando os integrantes. Raspberry Moon é a estreia dos Hotline TNT como uma banda completa que contribui para a construção da música em estúdio e não só como parte dos espetáculos ao vivo. E isso é audível no registo. As paredes de som shoegaze que eram características do grupo são mais antémicas e acessíveis agora. Os Hotline TNT evoluíram para algo maior e Raspberry Moon é apenas o começo dessa história.
Lia Kohl + Zander Raymond, In Transit (Un je‑ne‑sais‑quoi)
In Transit esboroa o mundo real com o mundo ideal. Baseia-se em field sounds, que, como o título do álbum indica, foram gravados em ambientes ligados aos meios de transporte como táxis, comboios e paragens de autocarros. O ruído da vida na cidade mescla-se com as melodias do violoncelo e sintetizador de Lia Kohl e as texturas de Zander Raymond num ambient que tem tanto de hipnótico como de inquietante. A abordagem eletro-acústica constrói uma paisagem íntima e atmosférica, entregue de uma forma crua mas polida e retocada na mesma medida.
U.S. Girls, Scratch It (4AD)
Meg Remy, a canadiana por trás do projeto U.S. Girls, funde variadas influências num sophistipop característico. Scratch It foi gravado live-to-tape em Nashville e deriva do country, folk, gospel, disco e soul. A escrita de Remy já era descrita como vívida e cinemática, mas atinge um pico inédito em “Bookends”, uma envolvente canção de 12 minutos que nos prende em toda a sua duração. Scratch It é um novo triunfo para U.S. Girls.
Yaya Bey, Do It Afraid (Drink Sum Wtr)
Juntamente com o novo álbum das Haim, Do It Afraid é outro álbum que chama pelo verão. A sonoridade habitual com base no hip-hop, R&B e soul faz-se acompanhar dos ritmos caribenhos do soca, música do insular Barbados. O título do álbum é claro. Yaya Bey apela a que o ouvinte aceite o medo, mas que isso não pare e que celebre as alegrias, numa mensagem positiva de auto-aceitação e resiliência.