Lost in Music, do jornalista britânico Giles Smith, é mais do que um livro sobre discos, bandas e ídolos pop. É uma crónica melancólica, divertida e profundamente honesta sobre o que significa amar música — não como profissão ou status social, mas como parte inseparável da identidade pessoal.
Publicado originalmente em 1995, o livro funciona como uma autobiografia musical, traçando a trajetória do autor desde a sua infância em Essex até às suas tentativas frustradas de se tornar uma estrela do pop nos anos 80. Mas ao invés de glamour, o que Smith nos oferece é um olhar desencantado (embora carinhoso) sobre a cena musical britânica e as ilusões de grandeza que ela pode cultivar em jovens sonhadores.
O charme do livro está precisamente na sua autoironia. Smith escreve com leveza e sagacidade sobre as suas desilusões, como os ensaios intermináveis sobre bandas que nunca descolaram ou a sensação de estar sempre um passo atrás dos seus ídolos. Smith lembra-nos que a paixão pela música, muitas vezes, tem mais a ver com frustração do que com realização — e que há algo profundamente de humano nisso.
Diferente de outros livros sobre música, Lost in Music não gira à volta de grandes estrelas ou momentos históricos. O seu foco está no quotidiano: nas mixtapes feitas com cuidado obsessivo, nos pósteres colados na parede, nas manhãs solitárias de volta dos vinis arranhados. Para quem cresceu entre os anos 70 e 90, há um forte elemento de nostalgia. Mas mesmo para os leitores mais novos existe muita identificação com a eterna procura de pertencer a algo, através de sons e letras.
Se há um defeito (?) no livro, talvez seja a sua inclinação para o saudosismo. Em alguns trechos, o humor ácido de Smith pode parecer um tanto condescendente, como se estivesse constantemente a desculpar-se por ter levado a música tão a sério. Ainda assim, é essa mesma honestidade que torna Lost in Music tão cativante.
Giles Smith mostra-nos que nem todos os viciados em música precisam de ser eles-próprios músicos. Às vezes, o maior talento está em ouvir, lembrar e rir de si mesmo. E nesse sentido, Lost in Music é um retrato comovente da relação íntima, muitas vezes absurda, entre fã e arte.