Black Country, New Road

20 álbuns que queremos ouvir esta primavera

Pedro Picoito

Hoje começa a primavera e a propósito deixamos-te 20 álbuns a sair durante esta estação e pelos quais não podemos esperar.

O início do ano costuma ser tímido em novos álbuns. À medida que o ano vai ganhando tração, os artistas animam-se e a primavera e o verão parecem ser as estações em que mais bandas partilham os novos projetos. A partir do final de março, o transtorno sazonal afetivo entra em remissão e começamos a prespetivar as idas à praia e a nova carta da Olá. Os dias aumentam, a hora muda e toda a gente está mais bem disposta. É a altura ideal para escutarmos novos lançamentos dos nossos artistas preferidos e para nos tornarmos fãs de outros tantos, mesmo a tempo das suas passagens pelos festivais de verão.

Para esta primavera, elegemos vinte álbuns que nos deixam entusiasmados. A lista é eclética, vai desde a pop ao country ao hip-hop. Deixámos de lado os boatos e a especulação. Incluímos apenas lançamentos já anunciados, embora em alguns dos casos o avanço de uma data não significa que o álbum chegue alguma vez a sair (Olá, Lana del Rey!)… Listamos nomes mais badalados, como Lucy Dacus e Bon Iver, mas também aqueles que não são tão conhecidos e que decididamente queremos fazes chegar a mais gente, como Great Grandpa e Florist. O nosso objetivo é que esta lista sirva de guia para os lançamentos desta estação e que, na pior das hipóteses, uma destas vinte bandas ganhe um novo fã.

Japanese Breakfast, For Melancholy Brunettes (and Sad Women) (21/03)

Japanese Breakfast atingiu um novo nível de estrelato com Jubilee, em 2021. O álbum distinguia-se dos trabalhos prévios da artista americana pelo otimismo e euforia em tons de amarelo e laranja. Em vez de reutilizar a temática e sonoridade que lhe trouxe mais sucesso, Michelle Zauner decidiu seguir a alegria de Jubilee com algo, bem, melancólico. Zauner queria algo que a desafiasse, então escolheu trabalhar com Blake Mills, que, além de uma excelente carreira a solo, já produziu para nomes como Fiona Apple, Laura Marling e Perfume Genius. Muitas das canções são pequenas histórias e projeções futuras que servem de metáfora para o agridoce que uma nova etapa de reconhecimento lhe trouxe.

Destroyer, Dan’s Boogie (28/03)

O projeto canadiano de Dan Bejar regressa esta primavera com Dan’s Boogie, que se segue a Labyrinthitis, de 2022, e que conta com uma capa extraordinária. Há quase trinta anos que os Destroyer lançam música e Dan’s Boogie é já o 14º álbum no catálogo. Se os singles são de fiar, o próximo registo trará o indie rock terno que os Destroyer nos mostraram nos últimos trabalhos: a voz de Bejar conversacional, a percussão aconchegante e o saxofone a acrescentar a sua suavidade.

Great Grandpa, Patience, Moonbeam (28/03)

Já se passaram quase seis anos desde o excelente álbum dos Great Grandpa, Four of Arrows. As melodias pop aliadas à garra grunge (não fossem eles de Seattle!) das canções do segundo álbum da banda trouxeram-lhes um público maior em 2019. Mesmo assim, o quinteto ainda passa despercebido a muitos ouvintes. Os quatro singles que já tivemos de avanço mostram-nos uns Great Grandpa ligeiramente diferentes, com o seu lado emo mais aguçado, mergulhando mais nas texturas folk do que nos ganchos pop. Mas o selo de qualidade e a nossa confiança no grupo mantém-se. Se Patience, Moonbeam seguir o legado de Four of Arrows, será dos melhores álbuns do ano e também dos mais subestimados.

Lucy Dacus, Forever Is A Feeling (28/03)

Tendo o fenómeno boygenius atingido o nível de omnipresença que atingiu, é difícil lembrarmo-nos que já se passaram quatro anos desde o último álbum de Lucy Dacus. Com o aumentar do catálogo, incluindo os singles que antecedem Forever Is A Feeling, somos levados a pensar que a garra de Historian, de 2018, foi uma exceção. Baladas como “Limerence” ou até a mais mexida “Ankles” prevêem que o quarto LP de Dacus dará continuidade ao registo sereno e confessional que a cantora constrói com as suas canções delicadas e a sua voz aveludada. Talvez depois de Forever Is A Feeling as melhores canções de Dacus continuem a ser as de Historian, mas os quatro avanços que já foram partilhados são razão suficiente para querermos escutar a obra completa.

Perfume Genius, Glory (28/03)

Perfume Genius, o nome de projeto do americano Mike Hadreas, tem construído uma discografia invejável, arrojada e diversificada, encontrando-se continuamente nas listas de melhores do ano. Em 2022, editou Ugly Season, que se aventurava por uma sonoridade mais experimental e uma abordagem desconstruída da música pop. Os dois singles que Hadreas já partilhou de Glory parecem indicar que o próximo registo voltará aos refrães e melodias acessíveis e a integração de vários elementos folk e americana. Em “No Front Teeth”, canta com a neo-zelandesa Aldous Harding e o registo conta também com a contribuição de Meg Duffy (Hand Habits). Em Glory, Perfume Genius propõe-se a mostrar um lado da experiência queer pouco explorado, para lá da tragédia e da juventude.

Spellling, Portrait Of My Heart (28/03)

Em 2021, a californiana Spellling, nome de projeto de Chrystia Cabral, não passou despercebida graças ao seu terceiro álbum The Turning Wheel. Foi considerado por várias publicações dos melhores do ano e introduziu a americana a um público maior. Quatro anos depois, Spellling regressa com o primeiro registo inédito desde então. Os singles demonstram uma maior preponderância do rock face ao pop avant-garde operático de The Turning Wheel, e é aliciante. Curiosamente, o alinhamento encerra com “Sometimes”, um cover da canção dos my bloody valentine, do pioneiro loveless, pelo qual não podíamos estar mais empolgados.

Black Country, New Road, Forever Howlong (04/04)

De tempos a tempos, surgem bandas que, com o álbum de estreia, se tornam grandes promessas para o futuro da música. Foi o caso dos ingleses Black Country, New Road, que em 2021 nos trouxeram o experimental For The First Time. Desde aí, a trajetória do grupo foi tudo menos linear. Menos de uma semana antes de lançarem o esperado segundo álbum, o vocalista Isaac Wood, que ocupava um papel bastante frontal nas composições, anuciava a saída do grupo. Ants From Up There saiu poucos dias depois e sagrou-se instantaneamente um dos melhores álbuns da década, juntando uma sensibilidade pop afinada às canções pós-punk. No entanto, era certo que a sonoridade dos BCNR nunca mais seria a mesma.

Em 2023, lançavam Live At Bush Hall, que contava com as primeiras composições sem Wood. Tanto neste álbum como nos singles que antecipam o próximo álbum a sair, Forever Howlong, o baroque pop torna-se mais central, bem como as vozes femininas. Quatro anos depois de For The First Time, a carreira dos BCNR não é aquilo que ninguém previa mas talvez por isso o entusiasmo para Forever Howlong seja ainda maior.

Florist, Jellywish (04/04)

Há algo airoso nas composições de Florist. A banda de Brooklyn já há quase dez anos que encanta com folk leve e gracioso, mas que se aprofunda bastante nos poemas que acompanham as melodias bucólicas. Os quatro singles que já foram partilhados de avanço trazem-nos a sonoridade formosa de sempre. As guitarras dedilhadas entrançam-se com a voz suave da vocalista Emily Sprague numa serena paisagem. Quando dizemos que Florist é uma banda segura, dizemo-lo da melhor forma. É um projeto consistente, no qual cada canção é uma jóia de beleza orgânica que nos faz contemplar a vida à nossa volta. É a banda perfeita para este início de primavera.

Bon Iver, SABLE, fABLE (11/04)

Com a voz grave e rústica de Justin Vernon, o projeto Bon Iver ficará para sempre associado a cabines na floresta, neve e dias frios, que serviram de cenário ao exímio álbum de estreia For Emma, Forever Ago, de 2007. Mas a verdade é que desde o seu começo, os Bon Iver passaram de um homem para vários, que dizem não ser bem uma banda mas mais uma comunidade difícil de classificar (O Bon Iver? Os Bon Iver?). Da mesma forma, o som do conjunto vai-se transformando ao longo dos registos, mostrando-nos não só o folk que os pôs no mapa, mas também melodias pop aliciantes e a excelência na produção eletrónica.

A primeira introdução de SABLE, fABLE foi com o EP SABLE, lançado no final de 2024 e que aparentava ser um regresso às origens, com composições cruas e invernais. Mais tarde, era anunciado que este EP seria a primeira parte de um álbum completo, a sair em abril de 2025. Os singles seguintes (“Everything Is Peaceful Love”, “Walk Home” e “If Only I Could Wait”) revelavam que afinal este não seria um registo semelhante ao primeiro álbum, ou, pelo menos, não totalmente. Por entre as malhas orgânicas de guitarra, há também o glitch eletrónico e os refrães que são como um pingo de açúcar para o ouvido. Como sempre, não percebemos bem os contornos, mas sabemos que podemos confiar.

Julien Baker & TORRES, Send A Prayer My Way (18/04)

Julien Baker e TORRES são ambas do sul dos Estados Unidos e já várias vezes acariciaram o género country na sua música. Contudo, Send A Prayer My Way é o primeiro projeto oficialmente country das duas. Para já, contamos com três bons singles: “Sugar In The Tank”, “Sylvia” e “Tuesday”. As harmonias ao longo das canções são deliciosas, fundindo duas vozes bastante características. Qualquer um dos três avanços até agora recusam-se a ser música de fundo. Baker e TORRES contam-nos uma história com cada canção que nos agarra do início até ao último acorde. Para quem aprecia temas construídos de forma minuciosa, este é um álbum a não perder.

Beirut, A Study of Losses (18/04)

A Study of Losses será um álbum diferente na discografia dos Beirut, o projeto de pop orquestral de Zach Condon. É inspirado no romance alemão Verzeichnis einiger Verluste, de Judith Schalansky, e, para além disso, foi encomendado pela companhia de circo sueca Kompani Giraff para um espetáculo acrobático. O alinhamento conta tanto com canções inéditas como regravações de material antigo. A propósito do novo lançamento, a banda irá embarcar numa pequena digressão europeia a começar em maio. No entanto, ainda não há datas anunciadas para Portugal.

Samia, Bloodless (25/04)

Quando surgiu no início da pandemia com a delicada “Is There Something In The Movies?” em 2020, Samia destacou-se pela sua voz polida e a escrita emotiva e sonhadora, ainda que magoada. Desde aí, e já com dois álbuns lançados, a californiana de origem libanesa tem vindo a condensar as suas variadas influências num indie pop com sensibilidades rock, folk e country, sempre com um espírito jovem e uma qualidade de contadora de histórias única. De Bloodless, conhecemos já “Lizard” e “Bovine Excision”, que parecem indicar que o próximo registo será uma ótima companhia para viagens de carro este verão.

Car Seat Headrest, The Scholars (02/05)

A afeição aos Car Seat Headrest para qualquer fã que não seja obcecado anda difícil de quantificar. Twin Fantasy e Teens of Denial foram dos melhores álbuns da década dos 2010s, mas Making A Door Less Open, de 2020, convenceu poucos. No último álbum, Will Toledo brincava com um alter ego. Agora, em The Scholars, a premissa é mais ambiciosa. O álbum é descrito como uma ópera rock e tem como cenário a ficcional Parnassus University. Ao longo do alinhamento, são exploradas as vidas dos estudantes e trabalhadores da universidade. No primeiro avanço, “Gethsemane” de 11 minutos, Toledo apresenta-nos Rosa, uma estudante de medicina com poderes sobrenaturais, capaz de absorver a dor dos outros.

Talvez The Scholars seja demasiado ousado. Talvez ser o primeiro álbum em cinco anos, seguindo-se ao pouco entusiasmante Making A Door Less Open, também não ajude. Ainda assim, Twin Fantasy e Teens of Denial são triunfos inegáveis, que nos impossibilitam de ignorar um lançamento desta banda.

Jenny Hval, Iris Silver Mist (02/05)

Certas regiões do mundo têm o seu próprio som. Os artistas escandinavos conseguiram criar uma sonoridade característica que é orgânica e campestre, mas ao mesmo tempo moderna e cosmopolita. É tradicional e conhece a fórmula, mas arrisca-se em experimentalismos. A norueguesa Jenny Hval é assim: multi-facetada e difícil de classificar em poucas palavras. A sua pop é fluída, simples numa primeira instância, e nada do que parece quando lhe dedicamos mais tempo. No primeiro single “To be a rose”, Hval pega na metáfora já muito mastigada daquilo que uma rosa é, rodopia-a e transforma-a num cigarro. Fala de si e da sua mãe, num perpétuo movimento atmosférico que, quando a canção chega ao seu final, nos toma de surpresa.

Model/Actriz, Pirouette (02/05)

Quem teve o privilégio de os ver o ano passado no Vodafone Paredes de Coura, certamente ficou rendido aos Model/Actriz. O grupo noise-rock de Brooklyn sobressai pelas atuações altamente teatrais, com o volume no máximo e a energia em níveis ainda mais elevados. A estreia de 2023, Dogsbody, foi bem recebida, assim como o primeiro single que partilharam em preparação para Pirouette. “Cinderella” é sem dúvida uma das mais bem-conseguidas canções de 2025. Com uma forte influência techno, Cole Haden continua a luta contra a masculinidade tóxica e torna-se vulnerável ao ganhar coragem de admitir que, em pequeno, queria uma festa temática da princesa Cinderela. Dogsbody foi dos melhores álbuns do ano e, com um excelente primeiro single como “Cinderella”, apostamos as nossas fichas em como Pirouette também o será.

PUP, Who Will Look After The Dogs? (02/05)

A banda pop-punk de Toronto PUP tem construído um catálogo respeitável, mas continua a ser pouco notada pela crítica. O grupo canadiano trabalhou em Who Will Look After The Dogs? com o produtor John Congleton em Los Angeles. Uma das faixas do registo é uma colaboração com Jeff Rosenstock. O primeiro single “Paranoid” traz-nos os PUP neuróticos, prestes a explodir, a que já estamos tão habituados. Mas o grupo é exímio também em compor canções pop que não nos vão sair da cabeça e é mais neste segundo saco que cai “Hallways”, o segundo avanço. Tendo em consideração todos os álbuns anteriores, é seguro dizer que Who Will Look After The Dogs? vai conter estes dois polos e as várias matizes que vão de um ao outro.

billy woods, GOLLIWOG (09/05)

O rapper nova-iorquino billy woods tem estado por detrás dos melhores projetos no hip-hop dos últimos anos. Em 2023, editou Maps, com Kenny Segal (que também integrará GOLLIWOG) e também We Buy Diabetic Test Strips, como parte de Armand Hammer. Em GOLLIWOG, conta com uma palete vasta de artistas e produtores, como El-P, The Alchemist, DJ Haram, Segal, ELUCID e Cavalier. Apesar de já lançar música há duas décadas, woods continua uma presença enigmática na cena do hip-hop, que oferece poucos detalhes e que deixa a sua brilhante discografia falar por si.

Little Simz, Lotus (09/05)

Num comunicado de imprensa, o sexto álbum Lotus da rapper britânica Little Simz é descrito como uma manifestação de “renovação e crescimento, espelhando a evolução da sua artisticidade e a viagem temática do álbum pela fases intrincadas da vida”. O primeiro single é produzido por Miles Clinton James, e é uma colaboração com Obongjayar e Moonchild Sanelly. Little Simz encanta com a forma exímia com que entrega verso atrás de verso, sempre natural e sem aparente esforço, e acreditamos que Lotus será mais uma coroa no seu catálogo.

Lana del Rey, The Right Person Will Stay (21/05)

Um anúncio de um novo álbum vindo de Lana del Rey é como as previsões meteorológicas nesta mudança de estação. Será que vai chover? Está sol de manhã, mas apanhamos uma molha à tarde. Um dia faz frio e no dia seguinte já trazemos casacos a mais. Nunca sabemos com o que contar. Ainda assim, a rainha da pop já construiu um catálogo, ao longo de quase 15 anos, merecedor da nossa atenção e de uma menção nesta lista. Em 2019 a crítica perdeu a vergonha de dizer que gostava dela com o delicioso Norman Fucking Rockwell. Em 2023, voltou a exceder expectativas com Did you know that there’s a tunnel under Ocean Blvd, que para alguns foi ainda melhor do que NFR. De momento, ainda não há nenhuma novidade sobre este novo álbum. Em tempos, a cantora mencionou um próximo álbum que seria country, mas mais tarde referiu ter mudado o rumo. A história de promessas que se dissolvem e planos alterados é longa com Lana del Rey, mas pode ser que The Right Person Will Stay chegue para ficar.

yeule, Evangelic Girl Is A Gun (30/05)

Apesar de já a caminho do terceiro álbum, a presença de yeule é ainda enigmática. Num mundo em que as relações parassociais dos fãs com os artistas aumentam e há uma pressão por parte do marketing para os artistas serem acessíveis, yeule é um caso raro em que se sabe mesmo muito pouco sobre a pessoa por trás da música que nos chega. O seu som é também difícil de classificar. O primeiro álbum, o brilhante Glitch Princess de 2022, apostava numa produção mais eletrónica, com forte influência hyperpop. Já softscars de 2023 apoiava-se principalmente numa sonoridade shoegaze. No curto single “Skullcrusher”, o instrumental é arrastado e a voz é abafada pela mancha de som. Já em “Eko”, a voz é central e bem delineada nas suas cadências pop. A direção de Evangelic Girl Is A Gun é ainda pouco clara, o que nos faz ainda mais empolgados pelo lançamento do projeto.