Psychedelic Porn Crumpets – Carpe Diem, Moonman (2025)

Francisco Pereira

Carpe Diem, Moonman – Crítica ao novo e incrível álbum dos Psychedelic Porn Crumpets.

Lançado a 15 de maio de 2025, quase sem darmos conta, Carpe Diem, Moonman marca o sétimo álbum de estúdio dos australianos Psychedelic Porn Crumpets. O seu novo disco é um carnaval sónico entre o caos e o consolo.

Carpe Diem, Moonman não é apenas o nome do novo álbum dos Psychedelic Porn Crumpets — é um aviso de entrada para um parque de diversões sonoro, psicadélico e maravilhosamente caótico. Ao sétimo disco, a banda de Perth, liderada por Jack McEwan, entrega-nos um artefacto musical que parece ter nascido da colisão entre uma digressão interminável, um devaneio existencial e uma vontade incontrolável de disparar ideias como quem atira confettis ao universo.

Um disco mutante, viciado em surpresa

Descrito pelo próprio McEwan como um “emaranhado de caos”, este álbum é uma colagem viva de géneros e impulsos criativos. E a verdade é que isso sente-se em cada faixa — Carpe Diem, Moonman não repousa um segundo, não repete uma fórmula, não permite a quem ouve, acomodar-se. É um bicho mutante, ora explosivo, ora estranhamente belo, sempre à beira de uma nova transformação.

A abertura com “Another Reincarnation” estabelece desde logo o tom: guitarras que deslizam entre o psicadélico e o grunge, bateria que embala e sacode ao mesmo tempo, e uma produção que prefere o excesso ao equilíbrio. “Ferocidade controlada” talvez seja o melhor termo — se é que há algo controlado neste álbum.

Estranheza como método

Em “Weird World Awoke”, single de avanço, McEwan lança uma das suas provocações mais certeiras: “Está tudo a ficar estranho, não está?” — mas a pergunta, mais do que resposta, é bússola. A faixa é um reflexo do próprio disco: rápida, alucinada, lírica e espirituosa, mas com um subtexto de inquietação. O mundo parece cada vez mais absurdo, e os PPC respondem não com ordem, mas com um espelho partido onde todas as versões do real cabem.

Canções como “Qwik Maff” ou “Incubator (V2000)” aprofundam essa lógica de colagem absurda, fundindo matemática sonora e improviso emocional, com secções que mudam de forma como um caleidoscópio hiperativo. Já “As The Hummingbird Hovers” e “Winter In Parachutes” mostram o lado mais atmosférico do disco, como se o delírio abrisse brechas para o sonho e a contemplação.

Filosofia de feira popular

Há algo de profundamente filosófico neste caos. Não no sentido académico — os PPC não querem provar nada — mas no gesto quase niilista de criar música como quem constrói um puzzle cujas peças vêm de caixas diferentes. Há referências a passeios de fim-de-semana descontrolados, mordidelas de cão, dúvidas existenciais e árvores de Natal com perdizes. É nonsense com intenção. É um grito de liberdade artística onde tudo cabe — desde que seja vivido com intensidade.

Conclusão: delírio que recompensa

Carpe Diem, Moonman é um disco que se ouve em ziguezague — desafia a linearidade, exige disponibilidade e devolve surpresas a cada escuta. Como um carrossel psicadélico alimentado por riffs cortantes, sintetizadores corrosivos e uma energia quase carnavalesca, o álbum é, acima de tudo, uma celebração do excesso como linguagem. Não se trata de perfeição — trata-se de movimento, de vibração, de uma espécie de poesia caótica em estado elétrico.

Os Psychedelic Porn Crumpets continuam a ser uma das bandas mais viscerais e imprevisíveis do universo psicadélico contemporâneo. E com este disco, assinam a sua obra mais ambiciosa e delirante até à data. Não é para todos — mas quem entrar neste circo sonoro dificilmente sairá ileso.