Bad Vibes: Britpop and my part in its downfall

Francisco Pereira

Luke Haines

Edição: 2009

O evangelho segundo Luke Haines

Alguém havia de o fazer, mais cedo ou mais tarde. E quem melhor do que Luke Haines, eterno enfant terrible da música britânica, para escrever as suas próprias memórias de amargura e vingança? Décadas após o fim oficial do Britpop, Haines continua a sua cruzada pessoal contra tudo e todos, numa narrativa sarcástica e autoconsciente onde cabem fracassos comerciais, alucinações induzidas por drogas, sabotagens auto-infligidas e um desprezo quase bíblico pela indústria musical.

Hoje, Haines parece mais uma figura de culto do que nunca – um espectro do passado a pairar sobre os podcasts de crítica musical, os documentários da BBC e os concertos revivalistas. O que sempre moveu Haines foi a frustração de não ter sido mais reconhecido. No início dos anos 90, parecia que tudo ia correr bem: os Auteurs (banda de Haines) estavam na boca da crítica, nomeados para o Mercury Prize. Mas, como ele recorda com o habitual desdém, perderam para os Suede – por um voto. A partir daí, a queda foi rápida: noites regadas a álcool, agressões a janelas, pernas partidas em quedas inexplicáveis, longas estadias em cadeiras de rodas. Enquanto isso, o mundo virava-se para os Gallagher e para a Cool Britannia.

Hoje, aos 57 anos, Haines continua a disparar para todos os lados. Os Blur são “turistas sonoros oportunistas”, os Oasis “broncos do norte sem nada a dizer”, os Verve “poetas de parede de casa de banho”. É difícil levar tudo isto demasiado a sério, mas há uma centelha de verdade por baixo da provocação. Haines sempre foi o Grinch da Britpop, o anti-herói a lançar bombas de sarcasmo no meio do êxtase pop.

Mas é aí que reside a falha trágica de Haines: por trás de todo este jogo de máscaras, falta substância. As suas canções obscuras, com títulos como Unsolved Child Murder, não falam realmente de nada. São exercícios de forma, pose e estilo. E por isso, talvez, nunca chegou ao coração do público. Pode não se gostar de Wonderwall, mas pelo menos sabe-se do que se trata.

Ao longo das suas memórias – hoje relidas com distância e uma pitada de nostalgia – Haines mantém-se fiel à personagem: um vilão operático. Revela pouco ou nada da sua vida pessoal, da sua infância, do seu âmago. E é precisamente por isso que, apesar do charme venenoso da sua escrita, o retrato fica incompleto.

Ainda assim, há valor neste registo cínico. Para os que ainda vibram com guitarras Fender Jaguar, que discutem a diferença entre Marquee Moon e More Songs About Buildings and Food, ou que ficaram acordados para ver Che de Soderbergh no cinema, este livro continua a ser uma joia rara. Um documento histórico divertido. Mas agora, em 2025, mais relíquia do que revelação.

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