The Studio: Hollywood goza consigo própria — e nós agradecemos

Eduardo Marino

A nova série da Apple TV+ é uma sátira afiada ao mundo do entretenimento, onde Seth Rogen reúne egos, disfuncionalidades e um guião afiado.

Depois de anos a tentar afirmar-se no competitivo mundo do streaming, a Apple TV+ começa finalmente a encontrar a sua voz. Até agora, só Ted Lasso, Severance e The Morning Show tinham conseguido reconhecimento crítico e popular. The Studio, uma das novas apostas da plataforma, que já tem uma segunda temporada em produção, junta-se à lista com algo que lhe faltava: humor corrosivo sobre o próprio meio que a produz.

Criada e protagonizada por Seth Rogen, a série passa-se nos bastidores de um grande estúdio de Hollywood. Mas ao contrário dos dramas corporativos ou das visões romantizadas sobre a “indústria”, aqui o tom é claramente outro. O protagonista, um produtor obcecado com métricas, vaidade e… microdoses de cogumelos mágicos, lidera uma equipa hilariante sempre em busca do próximo sucesso — ou pelo menos de evitar o próximo desastre.

O grande trunfo de The Studio é a quantidade absurda de participações especiais. Atores e realizadores reconhecidos aparecem em versões fictícias (e hilariantemente deformadas) de si próprios, a expor manias, inseguranças e ideias absurdas. É o caso de Martin Scorsese, Paul Dano, Olivia Wilde, Charlize Theron, Greta Lee, Ron Howard, Zoe Kravitz, Adam Scott, Anthony Mackie, entre muitos outros.

Há egos inflacionados, crises de identidade artística e uma constante sensação de que ninguém sabe muito bem o que está a fazer, mas todos fingem que sim. E nisso, a série acerta em cheio: rir-se de Hollywood com quem conhece bem os seus bastidores.

Apesar do tom de comédia, há episódios que arriscam formalmente — um dos mais comentados é filmado num único plano-sequência, o que além do feito técnico dá uma intensidade inesperada a um argumento recheado de caos. A realização acompanha o ritmo nervoso e claustrofóbico dos bastidores, mas sem perder o sentido de humor.

Seth Rogen, que também é um dos produtores executivos, imprime o seu estilo reconhecível: uma mistura de absurdo, sarcasmo e momentos surpreendentemente humanos. A personagem principal não é um vilão, mas alguém à beira de um burnout constante, cercado por figuras que tanto o inspiram como exasperam.

A série não pretende fazer grandes declarações morais nem transformar o sistema de estúdios. O que The Studio faz é mostrar as suas contradições, exagerá-las e rir-se delas com inteligência. Ao fazê-lo, conquista tanto os que conhecem o funcionamento da indústria por dentro como os que só querem divertir-se à custa dela.

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