10 álbuns: As escolhas dos Quase Nicolau

Francisco Pereira

Os Quase Nicolau escolheram 10 discos que os marcaram.

Os Quase Nicolau vão lançar o seu álbum de estreia, Felicidade Moderna, nesta sexta-feira, 11 de abril. No seu bandcamp, eles descrevem-se como “5 NICOLAUS que gostam de cantar em harmonia e de tocar uns instrumentos” mas nós dizemos, sem receios, que eles são muito mais do que isso. Podem constatá-lo a partir de sexta e no concerto de apresentação, no MusicBox, em Lisboa, no dia 18 de junho.

A pedido do Mente Cultural, os Quase Nicolau escolheram 10 discos que os marcaram profundamente. Este é o resultado:

1. Humanos

Humanos (2004)

Escolha de José Lobo Antunes

“Tudo em Humanos é digno de espanto. Tudo vive, vive, vive. As palavras e melodias de António Variações são singelas e profundas, plenamente maduras e providas da mais camoniana sensibilidade que encontrar se pode no cancioneiro português. Mas a música também não lhes fica atrás. Do princípio ao fim, o que Hélder Gonçalves e Nuno Rafael conseguiram foi fazer florir e dar frutos o que antes apenas sobrevivia, encontrando a essência de cada canção e trazendo-a à luz do dia por meio das vozes, instrumentos e movimentos certos. “Quero é viver” e “Adeus que me vou embora” são dois momentos infinitos deste disco que, como todos os grandes, só cresce com o tempo que passa.”

2. The Beach Boys

Pet Sounds (1966)

Escolha de Gonçalo Mota

“Um disco que mostra como arranjos complexos, harmonias vocais e experimentação em estúdio podem transformar canções simples em obras-primas. Inspirou-me a pensar para além das fórmulas comerciais e a explorar novas sonoridades e emoções.”

3. The Velvet Underground

The Velvet Underground (1969)

Escolha de Francisco Melo

“Devo ao Ziggy Stardust and the Spiders from Mars a introdução e paixão pelo formato do álbum. Antes deste só ouvia rádio e Beatles (entre outros) num mp3. Mas foi com o autointitulado The Velvet Underground que descobri o som com que mais me iria identificar na próxima década. Melancólico, denso, experimental e narrativo, continua a ser um dos meus discos favoritos e influenciou muito tanto a música que fui ouvindo mais, como a música que faço.”

4. black midi

Hellfire (2022)

Escolha de Francisco Carrapa

“Um álbum empolgante do início ao fim, tanto no seu conteúdo musical como textual. Apesar das suas harmonias peculiares, ritmos complexos e arranjos maximalistas, consegue ser algo muito coeso, onde nada aparenta estar a mais. É um dos discos que mais vezes ouvi na vida.”

5. Steve Reich

Music for 18 Musicians (1974)

Escolha de Nuno do Lago

“Quando estava a pensar em ir estudar cinema para Lisboa fiquei um ano parado antes de ir para o Conservatório. Nas manhãs desse limbo era costume ver sempre um filme ou algum documentário para me ajudar a enriquecer a minha cultura cinéfila. Eis que um dia decidi, sem querer, ver um vídeo do canal de Youtube da Vic Firth, uma conhecida marca de baquetas e de conteúdo ligado à percussão.
Uma hora e 5 minutos depois descobri que se a pulsação da vida tivesse um som seria o desta peça de Steve Reich.”

6. Kurt Rosenwinkel

The Next Step (2001)

Escolha de Francisco Carrapa

“O meu álbum favorito de qualquer guitarrista de jazz. Uma coleção incrível de temas extremamente ricos, tanto nas suas harmonias como melodias, ainda por mais com solos inacreditáveis. Uma das minhas grandes inspirações para estudar jazz.”

7. Queens of the Stone Age

Songs for the Deaf (2002)

Escolha de Nuno do Lago

“Dos álbuns que mais me influenciaram no início do meu percurso enquanto baterista. Lembro-me de ficar completamente contagiado pela locomotiva atómica que se sente em todas as faixas e de sentir pela primeira vez a bateria como o coração explosivo de uma música. É um álbum que considero fundamental pela forma como marcou a minha relação com timbres e espaços sónicos. A exploração de sons de guitarra elétrica transformados em rugidos de animais, fantasmas e motores de carros ainda é, para mim, parte da magia que me fascina na música e que certamente me abriu portas para o mundo da distorção e para a música mais pesada.”

8. Pink Floyd

Wish You Were Here (1975)

Escolha de Gonçalo Mota

“Um conjunto de canções que mostra como é possível contar uma história e transmitir uma mensagem poderosa através de atmosferas ricas e letras introspectivas.”

9. Carlos Bica

11:11 (2024)

Escolha de Francisco Melo

“Este disco é de 2024 mas posso dizer que marcou a minha vida. Numa altura em que comecei a ouvir mais jazz e a estudá-lo, 11:11 destacou-se pela sua beleza e harmonia.
Tem uma música feita à volta de uma gravação da voz de José Mário Branco que, como este disco, não deixa esquecer o incrível talento que já passou por este país e que nele ainda há.”

10. Grizzly Bear

Yellow House (2006)

Escolha de José Lobo Antunes

No seu primeiro álbum enquanto banda inteira, os Grizzly Bear legaram ao mundo um prodígio. Cada canção de Yellow House é um organismo maravilhosamente vivo. Da magnífica abertura com “Easier” ao fecho com “Reprise” e “Colorado”, todos os temas respiram e cintilam, intemporais, como se tivessem existido desde muito antes de quem os fez. Por vezes, a beleza parece quase impossível. Mas felizmente não é.”

* fotografia dos Quase Nicolau de Diana Matias