Os Dealema dispensam apresentações. Constituíram-se há muito tempo para se tornarem numa das grandes referências do hip-hop nacional. O seu disco de estreia, o EP O Expresso do Submundo, foi lançado em 1996 e em fevereiro do próximo ano vão celebrar os 30 anos de carreira num concerto muito especial, no Porto.
Pedimos a DJ Guze, Expeão, Mundo Segundo, Maze e Fuse que nos contassem um pouco de onde vêm as suas origens musicais. O resultado é esta lista de 10 discos imperdíveis.
1. Mobb Deep
The Infamous (1995)
Escolha de DJ Guze

“Algures em 95, estávamos nós no auge da nossa adolescência e em plena época dourada do Hip Hop, tudo era vivido a 100%, incluindo todas as vertentes desta cultura.
Quando este álbum saiu pensámos “wow…estes gajos partem tudo!”. Das rimas aos instrumentais, tudo soava muito diferente do que se tinha ouvido até então. O álbum contava também com convidados de peso como, por exemplo, Nas e Raekwon (Wu Tang Clan), só para citar alguns. As rimas de Prodigy, super afiadas e com um slang muito próprio e inteligente, encaixavam como uma luva nos densos e obscuros ambientes produzidos por Havoc. “Shook Ones part II”, um dos temas do álbum é até aos dias de hoje um dos maiores hinos do Hip Hop mundial. “The Infamous” é um disco que transmite uma espécie de hardcore de rua que nos motivou muito enquanto Dealema. A legacia de Mobb Deep continua ainda hoje e bem forte!”
2. Fonky Family
Art De Rue (2001)
Escolha de DJ Guze

“Falamos de 2001 Marselha, França, uma das Mecas do Hip Hop europeu.
Maioritariamente produzido por DJ Pone e Le Rat Luciano, ambos membros do grupo, podemos realçar uma grande diferença nos ambientes das produções, comparando com o que se ouvia até então no rap francês. De salientar, por exemplo, os seus BPM’s mais acelerados. Em “Art De Rue”, tema que dá nome ao álbum podemos ouvir uma espécie de pancadaria lírica metaforizando com as várias vertentes do Hip Hop (Graffiti, Break dance, DJ, MC) e a dureza de viver nos bairros sociais da cidade. Na altura uma grande lufada de ar fresco no rap europeu, um disco icónico do qual nos identificamos muito enquanto Dealema.”
3. Public Enemy
It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back (1988)
Escolha de Expeão

“Um álbum que nos marcou enquanto colectivo, devido ao estilo revolucionário da banda e às letras e flow do Chuck D. É um disco que nos influencia até aos dias de hoje, especialmente a mim.”
4. Ol' Dirty Bastard
Return to the 36 Chambers: The Dirty Version (1995)
Escolha de Expeão

“Um dos álbuns que mais ouvi no meu walkman e que me atraiu por ser completamente fora da caixa e mostrar que o Hip Hop pode ser diferente e original. O Old Dirty tem um estilo que vai beber muito ao funk e ao soul e marcou a minha infância como poucos outros.”
5. Wu-Tang Clan
Enter the Wu-Tang (36 Chambers) (1993)
Escolha de Mundo Segundo

“Este é um álbum que marca toda uma geração não só a nível sonoro, com as batidas de RZA cruas e abafadas, assim como os samples de soul clássico incríveis e escolhidas a dedo, numa mistura de mestria e arrojo desconhecido até então por parte do produtor e fundador do projeto. As letras incomparáveis e as vozes inconfundíveis deste coletivo sem igual catapultam a dinâmica e a diversidade na arte do MCing como nunca antes visto até então. Todos estes ingredientes fazem deste disco uma jóia rara na história do Hip Hop.”
6. Killah Priest
Heavy Mental (1998)
Escolha de Francisco Carrapa

“Este disco apresenta-nos um discípulo da família Wu Tang que pode ser apelidado de “Shakespeare do Rap”. Uma obra carregada de drama e conspiração onde o artista nos leva numa viagem inigualável pela sua mente infinita como o universo, pintando quadros com as suas palavras, levando-nos a sítios nunca antes visitados pela escrita. Uma grande influência criativa para nós como banda.”
7. Nas
Illmatic (1994)
Escolha de Maze

“Illmatic” foi lançado em 1994, é o álbum de estreia de Nas e é um dos discos mais icónicos da história do hip-hop, para muitos considerado um disco perfeito, com apenas 10 faixas, totalmente irrepreensíveis. As letras são afiadas e realistas, onde o rapper do Queens, pinta um retrato vívido da realidade urbana, explorando temas como violência, pobreza e ambição. O álbum conta com produções de lendas como DJ Premier, Pete Rock, Large Professor e Q-Tip, que produziram clássicos intemporais. Faixas como “N.Y. State of Mind”, “The World Is Yours” e “It Ain’t Hard to Tell” consolidaram Nas como um dos maiores letristas da história. No 2º Piso, estúdio de Mundo Segundo, analisámos vezes sem conta o storytelling do Nas e do AZ na “Life’s a Bitch”. É um disco que nos inspirou muito desde sempre, principalmente a nível lírico. O ” llmatic” revolucionou o género e continua a influenciar gerações até hoje.”
8. Gang Starr
Moment Of Truth (1998)
Escolha de Maze

“Moment of Truth” é talvez o disco dos Gang Starr que mais nos inspirou e, provavelmente, o ponto alto da carreira da lendária dupla nova-iorquina formada por Guru (Gifted Unlimited Rhymes Universal) e DJ Premier, um dos maiores produtores da história do Rap e pai dum estilo de produção inconfundível, pela forma como corta os samples e pelos seus refrões construídos com retalhos de frases scratchadas. Faixas como “Above the Clouds”, “You Know My Steez” destacam-se, mas a música que dá título ao álbum é uma das obras-primas dos Gang Starr, principalmente pela entrega crua e emocional das rimas do saudoso Guru e intensidade que ele acrescenta ao beat de Preemo fazem de “Moment of Trith” uma faixa de referência quando falamos de boom bap da era dourada. É um disco longo com 20 faixas onde se podem ouvir outros pesos-pesados como Inspectah Deck, Big Shug, Freddie Foxxx, os M.O.P. ou Scarface.
Vale a pena ouvir com uma atenção especial às letras para se conseguir entender bem a profundidade das ideias que eles expõem neste disco seminal.”
9. Cypress Hill
Black Sunday (1993)
Escolha de Fuse

“Trata-se de um disco icónico do hip hop da década dos 90, com uma sonoridade que os distinguia de tudo o que era feito naquela época. B-Real com a sua voz nasalada, Sen Dog o reforço perfeito e Dj Muggs o DJ e produtor da banda que inspirou todos nós com beats sombrios e samples psicadélicos. Cypress Hill tinham uma identidade única, sons pesados, escrita metafórica e muito fumo à mistura. Estivemos lá!”
10. Common
One Day it'll All Make Sense (1997)
Escolha de Fuse

“Common é uma referência incrível no Hip Hop mundial e “One Day it’ll All Make Sense“ é um disco de 1997 que marcou a transição do artista para uma sonoridade mais madura, poética e introspectiva. Common tem uma voz com um timbre genuíno, e neste disco colaborou com vários artistas que também foram influências importantes para nós, como No ID, Lauryn Hill e De La Soul. Escrita poética e consciente, este é um dos álbuns de Rap a revisitar sempre que possível.”
* fotografia dos Dealema de André Henriques