O regresso dos Arcade Fire com Pink Elephant é tudo menos triunfal. O sétimo álbum da banda canadiana tenta equilibrar introspeção emocional com ambições sonoras, mas acaba por tropeçar nas suas próprias contradições — e na sombra persistente das acusações de má conduta sexual contra Win Butler, que pairam sobre cada faixa como o proverbial elefante cor-de-rosa na sala.
Do lo-fi ao disco: uma identidade em conflito
O álbum começa com uma introdução instrumental descartável, seguida por duas faixas lo-fi — a faixa-título e “Year of the Snake” — que soam como demos caseiras, mas que, curiosamente, evocam a tensão e libertação de clássicos como “Ready to Start”. No entanto, a partir de “Circle of Trust”, a banda recai nos ritmos disco desinspirados e nos refrões vazios que marcaram os seus álbuns menos aclamados, como Everything Now. A produção de Daniel Lanois tenta dar coesão, mas o resultado é um álbum que parece dividido entre múltiplas direções estilísticas.
Letras problemáticas e falta de introspeção
Em “I Love Her Shadow”, Butler canta: “I wanna make new constellations from your permanent scars ” (“Quero fazer novas constelações a partir das tuas cicatrizes permanentes”), uma linha que, à luz das acusações de 2022, soa desconfortavelmente insensível. A tentativa de abordar temas de amor e redenção sem confrontar diretamente os escândalos passados torna o álbum emocionalmente incoerente.
O elefante na sala
Pink Elephant tenta ser uma obra de redenção, mas falha ao evitar uma confrontação honesta com o passado recente da banda. A falta de coesão musical e a superficialidade lírica resultam num álbum que não consegue recapturar a grandiosidade dos trabalhos anteriores dos Arcade Fire. Pode ser que o tempo diga que, musicalmente, até estejamos a ser algo injustos mas a verdade é que há certas coisas que não podem ser simplesmente ignoradas ou desvalorizadas.