O regresso de Perfume Genius com Glory.
Mike Hadreas, mais conhecido pelo seu alter ego Perfume Genius, está de volta com Glory, o seu sétimo álbum de estúdio, editado a 28 de março de 2025 pela Matador Records. Esta nova etapa assinala um ponto de viragem na sua já notável carreira: uma evolução sonora clara, mais robusta, ambiciosa e marcada pela colaboração — sem nunca trair a intimidade e vulnerabilidade emocional que sempre o distinguiram. Desde os primeiros segundos, percebe-se que este é um disco com peso — não apenas musical, mas também emocional.
Uma tapeçaria sonora de colaborações e texturas
Glory soa como uma tapeçaria cuidadosamente tecida, onde cada fio — cada instrumento, cada voz, cada silêncio — tem o seu lugar e propósito. A mistura de rock alternativo, art pop e elementos orquestrais cria um universo sonoro rico e denso, sem ser excessivo. Hadreas volta a juntar-se ao seu cúmplice habitual, Alan Wyffels, mas abre também espaço para novas vozes e mãos: o produtor Blake Mills, por exemplo, dá ao disco um corpo mais físico, mais palpável. As guitarras de Meg Duffy e Greg Uhlmann acrescentam textura, enquanto os bateristas Tim Carr e Jim Keltner imprimem dinâmica e profundidade. Tudo soa vivido, real, feito em conjunto — o que reforça a ideia de um Perfume Genius mais disponível e mais aberto para o outro.
Faixas em destaque e densidade lírica
Entre os vários momentos altos do disco, duas faixas destacam-se de imediato. “It’s a Mirror” é um espelho lírico que nos devolve as suas próprias inquietações — uma canção bela e desconcertante, daquelas que nos faz parar. Já “No Front Teeth”, com a participação da incrível e enigmática Aldous Harding, é um verdadeiro exercício de tensão e libertação emocional. O trabalho lírico de Hadreas mantém-se brilhante: fala-nos de ansiedade, solidão, desejo e estranheza com uma honestidade rara, sem nunca cair em dramatismos fáceis. A sua escrita continua a ser profundamente humana — frágil e corajosa ao mesmo tempo.
Um álbum entre força e vulnerabilidade
Se Glory está a ser aclamado pela crítica, não é por acaso. Hadreas consegue o feito raro de equilibrar delicadeza e intensidade, oferecendo um disco que tanto acolhe como desafia. Há nele uma meditação permanente sobre os opostos que habitam todos nós: o impulso de nos ligarmos aos outros em contraponto à necessidade de nos isolarmos, a ternura contra a dureza, o medo e o desejo a dançarem lado a lado. É um álbum que não oferece respostas fáceis — e talvez por isso seja tão poderoso. Convida-nos a escutar com atenção, a revisitar faixas, a demorar-nos nos silêncios. É um disco que fica connosco depois de acabar.
Conclusão: uma afirmação no panorama contemporâneo
Em resumo, Glory é mais do que um bom álbum — é uma afirmação. Hadreas consolida a sua posição como uma das vozes mais distintas da música contemporânea, provando que é possível crescer artisticamente sem perder a essência. Ao abrir-se à colaboração e ao expandir a sua paleta sonora, entrega-nos uma obra profundamente pessoal, mas que ressoa de forma universal. Intimista e expansiva, serena e inquieta, Glory é um daqueles discos que nos acompanha, que se cola à pele. Um testemunho maduro de um artista que continua a reinventar-se e sem nunca se trair.