Rir com rugas: Hacks volta à carga

Eduardo Marino

Na quarta temporada de Hacks, o humor continua a ser a ferramenta e o campo de batalha de duas mulheres em tempos (e idades) diferentes. A série mantém o ritmo afiado e confirma porque continua a conquistar os Emmys.

Hacks chegou à quarta temporada a fazer o que sempre fez melhor: explorar as tensões, cumplicidades e frustrações entre duas mulheres que precisam uma da outra mais do que querem admitir. Deborah Vance, a veterana do palco, e Ava Daniels, a jovem argumentista, continuam a ser o coração da série — duas gerações de comédia a tentar coexistir num mundo que, por vezes, não parece ter espaço para nenhuma delas.

Jean Smart, já galardoada com dois Emmy pelo papel de Deborah, está mais uma vez em forma. A entrega é cirúrgica, o tempo cómico continua afinado e há, nesta temporada, uma consciência ainda mais presente sobre o que significa ser uma mulher de idade no mundo do entretenimento. Deborah quer manter-se relevante e, ao mesmo tempo, não abdicar da sua identidade enquanto performer. Mas o mundo não facilita, e a série também não a trata com condescendência. A comédia, para ela, não é apenas um ofício — é uma questão de sobrevivência.

Já Ava (Hannah Einbinder), continua a tentar encontrar o seu espaço, ainda que a bússola moral nem sempre aponte na mesma direção que a da sua mentora. A tensão criativa entre ambas é o motor da série: são rivais, cúmplices, espelhos distorcidos uma da outra. Cada conversa é uma negociação, cada episódio uma aula sobre ego, ambição e o que significa ser “boa” no que se faz.

O grande motor da quarta temporada é a conquista de Deborah Vance: tornar-se a primeira mulher a apresentar um late night show em televisão generalista. Um feito histórico, mas também carregado de tensão. O lugar, que durante décadas foi território exclusivamente masculino, obriga Deborah a enfrentar tudo aquilo que a série tem vindo a explorar — sexismo, idadismo, e a eterna dúvida sobre até que ponto uma mulher pode ser autêntica sem ser penalizada por isso.

Os plot twists continuam certeiros, especialmente nos finais de temporada, onde a série já nos habituou a virar tudo do avesso. E sim, também nesta quarta temporada, há uma reviravolta.

Há também espaço para personagens secundários que ajudam a equilibrar o tom: Kayla, Marcus, Jimmy e companhia continuam a trazer momentos mais absurdos, sem nunca fugir muito ao tom geral da série. A escrita mantém-se sólida, com episódios que sabem quando ser mais íntimos e quando carregar na crítica ao meio televisivo e à indústria do entretenimento em geral.

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